“Eu não acho que um ser humano possa ser criativo. Se percebermos a criação ao nosso redor com uma certa profundidade, podemos imitar, de muitas maneiras diferentes — em permutações e combinações — e parecer criativos na sociedade, mas, na verdade, não somos realmente criativos.
Tudo o que poderia ter sido criado já foi feito na criação. Nós somos, no máximo, artesãos inteligentes. Se definirmos a palavra ‘criatividade’ como ‘criar algo de verdade’, seja produzindo um filme, pintando algo, construindo um edifício, falando, ou qualquer outra coisa, isso não é de fato criativo — é uma imitação inteligente.
Porque nós prestamos atenção a diferentes aspectos da vida, somos capazes de imitar de maneiras que os outros nunca pensaram ser possível. Ou, se você não gostar da palavra ‘imitar’, você pode dizer ‘replicar’.
Se você olhar para os seres humanos, nenhum deles tem chifres, um braço extra ou três olhos — tudo é igual, mas tudo é diferente. Isso é criatividade. Se você quiser descrever as características dos seres humanos em termos simples, todos têm duas pernas, duas mãos, um nariz, dois olhos e assim por diante, mas veja como cada um deles é um fenômeno único, em todos os sentidos.
Essa é a natureza da criação.
Nenhum ser humano nunca deve pensar que nós estamos criando algo. De alguma forma, consciente ou inconscientemente, nós estamos reproduzindo algumas coisas das impressões que assimilamos.
Ninguém consegue realmente criar algo novo aqui. Qualquer coisa que você crie, seja uma joia ou uma roupa, um prédio ou qualquer outra coisa, em qualquer forma e cor, já existe em algum lugar na natureza.
O que vemos como criatividade vem, essencialmente, da perspicácia da atenção. Certas pessoas são muito atentas às palavras e aos significados, então elas devolvem certas coisas. Certas pessoas são muito atentas às formas e cores, elas encontrarão expressão de uma maneira diferente.
Certas pessoas são muito atentas aos sons, elas podem ser capazes de produzir música sem muito esforço. O quão aguçada e profunda sua atenção é reflete em você, de alguma forma.
A essência do que tenho tentado fazer é fazer com que milhares de pessoas realmente prestem atenção sem intenção. Se as pessoas conseguirem fazer essa única coisa, a criatividade multidimensional é muito possível. Não é que elas tenham que praticar, o que falta no ser humano é atenção.
O que está afastando a atenção humana é, simplesmente, sua própria atividade cerebral. As pessoas não sabem como lidar com sua memória e atenção separadamente. Sua memória sempre inunda sua atenção e a enuvia o tempo todo.
As pessoas podem chamar esse enuviado da memória de pensamento ou emoção, mas é, essencialmente, a memória acumulada que interfere na atenção. Do contrário, é muito natural que você seja atento.
Este é o trabalho fundamental que sempre tentei fazer para que as pessoas sejam capazes de separar sua memória, atenção e imaginação. A imaginação não é um problema, porque a imaginação é uma extrapolação da memória de uma pessoa, de muitas maneiras diferentes.
Todos os animais têm uma atenção muito aguçada, mas não têm um senso de memória vívido como nós. Mas, em vez de usar essa memória como uma capacidade fenomenal, a maioria das pessoas usa isso para causar sofrimento a si mesmas.
Na maioria das vezes, os seres humanos estão sofrendo o que aconteceu há dez anos e também podem estar sofrendo pelo que pode acontecer depois de amanhã.
Os animais têm seus desafios, mas não estão sofrendo com sua memória, estão sofrendo com a vida. Os seres humanos estão apenas sofrendo de memória, na maior parte do tempo.
Conhecemos a vida apenas na medida em que estamos atentos a ela. Quão profunda é sua atenção, somente nessa medida você experiência a vida. Se sua atenção é muito profunda, sua experiência de vida é muito profunda.
Quando sua experiência de vida é muito profunda, ela pode encontrar alguma expressão simplesmente num simples trabalho que você esteja fazendo, ou pode encontrar expressão na poesia, na música ou em qualquer outra coisa.
Que tipo de expressão você encontrará depende, apenas, do tipo de atenção que você tem. Sua atenção está simplesmente lá para tudo? É como uma simples lâmpada, se você acender, a luz de uma lâmpada incide sobre tudo, ou você apenas atende a um determinado tipo?
A maioria das pessoas consegue prestar atenção apenas a uma determinada coisa que elas pensam ser interesse. ‘O que merece a sua atenção e o que não merece’ — esta é uma maneira errada de olhar a vida.
A fonte da criação não prestou menos atenção à criação de uma formiga do que à criação de um ser humano.
Quando esta é a natureza da criação, quem é você para decidir o que vale ou não a pena prestar atenção?
Isso pode soar um pouco estranho, mas, quando escrevo poesia, nem sequer a leio uma segunda vez. Não penso em um conceito específico. De alguma forma, eu ‘respingo’ poesia. Essa mesma coisa pode se tornar uma pintura, de alguma forma.
Se estou falando, dirigindo, ensinando, escrevendo ou pintando, para mim, é quase a mesma coisa. ‘Encontrar expressão’ não é a palavra, porque se você quer expressar você deve ter algum pensamento, ideia, filosofia ou ideologia.
Para mim, é mais um ‘respingamento’ do que uma expressão. Estou sempre disposto, mas se a situação estiver disposta, me tornarei uma torrente, do contrário, respingarei.
Se eu tivesse que fazer algum tipo de categorização da arte, eu separaria a arte que vem de níveis profundos de frustração da arte que vem da alegria.
Essa arte vinda de níveis profundos de sofrimento e frustração se tornou o estilo da arte europeia, em um determinado período de tempo, e o mundo inteiro está tentando imitá-la agora, o que é uma coisa muito negativa, porque quando essas coisas estão sempre em suas paredes, lentamente isso terá um impacto em você. Se não pode ter nenhum impacto sobre você, não pode ser chamado de arte.
Ela é capaz de impactar você, de várias maneiras, não apenas visualmente.
Infelizmente, as religiões do mundo têm elogiado o sofrimento. Na cultura yóguica, sempre valorizamos ananda, bem-aventurança e êxtase como o que há de mais alto valor.
O sofrimento não é valorizado, porque sempre vimos o sofrimento como autocriado, enquanto a alegria como não autocriada. Quando você está conectado com a vida, você é, naturalmente, bem-aventurado, quando você está desconectado da vida, e se torna uma confusão mental, então você tem sofrimento e frustração.
Então, eu gostaria de categorizar a arte dessas duas maneiras: a arte que vem desse nível profundo de frustração e sofrimento e a arte que vem de uma expressão alegre da vida.”
São nossas escolhas que determinam a forma como iremos viver, ou reagir a determinado fato! Sempre será nossa responsabilidade, como fazer !